Autor: Sabrina Sasso Nobre
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A construção de hipótese diagnóstica costuma ser um desafio no âmbito clínico, principalmente, quando o paciente apresenta sintomas que indicam distúrbios estruturais do sistema nervoso central e periférico, assim como, sintomas que sugerem transtorno de humor. Muitas vezes, o individuo acometido pode apresentar sintomas que não preenchem os critérios necessários para a construção de uma hipótese diagnóstica que comtemple um único transtorno, mas sim, mais de um. Os sintomas de depressão (mais frequente) e mania (menos frequente), por exemplo, são os que costumam aparecer com mais frequência, associados a outros transtornos.

 Os transtornos de humor, se caracterizam por uma disfuncionalidade da regulação do humor, e podem se manifestar em quadros clínicos neuropsiquiátricos como, por exemplo, a doença de Parkinson. Os distúrbios neuropsiquiátricos costumam estar associados aos transtornos de humor e evidências indicam, uma base neurobiológica semelhante para estes transtornos, sendo assim, durante a construção de um diagnóstico diferencial é fundamental levarmos em consideração os aspectos neuropsiquiátricos dos transtornos de humor.

As etiologias dos transtornos de humor podem ser diversificadas, no entanto, podemos supor que os modelos de sistemas cerebrais envolvidos podem ser investigados, já que, vários sistemas neurais interligados regulam o humor. A seguir, veremos grupos de sintomas específicos dos transtornos de humor que podem estar presente em síndromes neuropsiquiátricas com associação ou não de transtorno de humor:

  • Humor e afeto: O humor é caracterizado por um estado subjetivo e emocional, o afeto, estado objetivo que pode ser visto por um observador externo. Indivíduos com doenças neuropsiquiátricas podem manifestar humor e afeto dissociados.
  • Interesse e motivação: Esses dois aspectos estão amplamente associados aos episódios de humor, por exemplo: pacientes maníacos tem um interesse exagerado, já os depressivos costuram ter uma diminuição da capacidade de sentir prazer. A apatia sem a presença da depressão, por exemplo, é comum em pacientes neuropsiquiátricos (Parkinson, traumatismo craniencefálico, demência).
  • Sono: Paciente deprimidos costumam relatar insônia, pacientes em mania ou hipomania relatam ter uma redução da capacidade de dormir. Apetite: Apetite diminuído, aumentado ou inalterado, dependendo do estado que o paciente se encontra. As anormalidades do sono são comuns em pacientes neuropsiquiátricos.
  • Apetite: a alteração do comportamento alimentar em transtornos de humor é comum, aumento ou perda do apetite. Nos quadros neuropsiquiátricos estes sintomas também podem ocorrer sem, necessariamente, a presença de um transtorno de humor.
  • Atividade psicomotora: alterações na motilidade, atividade mental e fala, fadiga, lentidão nos processos de pensamento ou aumento da velocidade psicomotora. A lentidão do pensamento e das atividades é muito comum em doenças neuropsiquiátricas, assim como, em pacientes deprimidos, em casos graves de depressão o paciente pode chegar a apresentar catatonia, por exemplo.
  • Viés emocional: Dependendo do transtorno de humor que a pessoa apresenta, ela pode manifestar um viés emocional para fatores negativos ou positivos em sua vida, por exemplo: pacientes depressivos tem uma visão mais negativa do mundo.
  • Cognição: Comprometimento da atenção/concentração. Pensamento mais lento, déficit nas funções executivas, déficit mnéstico, entre outros. Os pacientes neuropsiquiátricos apresentam comprometimento cognitivo, e estes podem piorar se o paciente apresentar um transtorno de humor associado.

Referência:

Yudofsky, C. Fundamentos de neuropsiquiatria e ciências do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2014.