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Contar uma história é uma prática social muito antiga e culturalmente instalada, que contém um enredo, um cenário e um personagem, cujo objetivo é relacionar acontecimentos dentro de uma ordem (Duarte, 2012). Se queremos saber quem é determinada pessoa, não nos basta atribuir características a ela, narramos uma história sobre ela, entregamos e ordenamos um conjunto de dados, de informações sobre o que compõe a trajetória de sua vida ou um fragmento. A mesma coisa acontece quando falamos de nós mesmos.
O ser humano é um sujeito construtivo (ativo e dinâmico na interação com o meio), que está em trânsito contínuo entre dois processos: o de manutenção e o de mudança. Mecanismo que divergem em seus propósitos, entretanto, convivem e interagem em busca de uma coerência interna.
Os mecanismos de manutenção se formam a partir de elementos que fazem parte da consciência e do conhecimento sobre si e sobre o mundo. Essas referências se apresentam na narrativa, ou seja, na forma como o indivíduo se expõe (diz e/ou age) em frente ao outro, portanto, aparecem na maneira como ele mesmo se descreve em busca de ser reconhecido.
O ato de falar de si possibilita que a pessoas se aproprie de sua existência, por meio da interação com o outro que o reconhece, portanto, a ação de descrever a si mesmo e a própria história é chamado de identidade narrativa.
A identidade narrativa emerge da dialética entre o personagem construído e a narrativa de si mesmo, essa dinâmica possibilita a integração de emoções em uma unidade coerente, através de uma trama de significados.
Quando vivenciamos eventos que geram desconforto, ou que causam uma percepção de sermos visto pelo outro como diferente, a confirmação dos outros sobre quem somos (que diverge da nossa perceção), não sustenta a história e concepção de si mesmo e do mundo. Essa vivencia pode gerar um desequilíbrio e influenciar a nossa autopercepção e, provavelmente, impactar na forma como vamos nos descrever.
Portanto, a identidade narrativa se refere a uma ação que possibilita o autoconhecimento e o diálogo entre os processos de manutenção e mudança, integrando o que já conheço e o que é novo. Quando relatamos os acontecimentos da nossa vida, as experiências são organizadas e registradas através da narrativa. Assim sendo, o relato da trama pessoal possibilita a reconfiguração da experiência.
Referências:
Duarte, J. (2012). Aportes desde la intersubjetividad y la identidad narrativa para la psicoterapia constructivista cognitiva. La terapia como un marco para la construcción y deconstrucción de historias. Tesis para optar al grado de Magíster en Psicología mención clínica adulto. Santiago de Chile: Universidad de Chile: Facultad de Ciencias Sociales.
Sasso Nobre, S. & Vergara, P. H. (2019). Migración y autopercepción: la experiencia de vivir entre mundos. Una perspsectiva constructivista cognitiva. Disponible en https://repositorio.uchile.cl/handle/2250/175937
Imagem: Pinterest
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