- Ideias Desorganizadas - 9 de maio de 2025
- DEVANEIO - 8 de maio de 2025
- Quando a perda de memória é preocupante? - 28 de abril de 2025
Imagino que você já tenha visto algum filme ou lido algum livro onde havia um individuo com múltiplas personalidades, como por exemplo no livro Sybil ou no filme Fragmentado, onde o sujeito acometido apresenta duas ou mais personalidades distintas, e cada uma delas pode ter um nome e característica singulares. No entanto a ficção nem sempre retrata a real dor e trajetória dos sujeitos acometidos, que costuma ser marcada por traumas e tragédias.
Nos anos 70 o livro Sybil, escrito pela jornalista Flora Rheta Schreiber, chamou a atenção para os transtornos dissociativos, nele, o personagem principal Sybil (inspirada na história da paciente psiquiátrica Shirley Ardell Mason), passava por lapsos de memória e ansiedade social e no decorrer da história a paciente descobre que tem 16 personalidades distintas. A história de Shirley foi um dos mais famosos casos de transtorno de múltiplas personalidades, atualmente chamado de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Claro que há certos exageros na obra, no entanto, a história apresenta uma riqueza de detalhes das dissociações vivenciadas pela protagonista.
Imagino que até aqui você tenha ficado um pouquinho confuso, pois, falei em múltipla personalidade e transtorno dissociativo, bom, isto ocorre porque este é em assunto polêmico em saúde mental, há inúmeras vertentes com diferentes hipóteses e argumentos. No entanto, aqui vamos nos ater a construção de hipótese diagnóstica diferencial, e tecnicamente falando, não existem hoje diagnósticos de dupla personalidade ou de múltiplas personalidades, como vemos às vezes no cinema ou em livros. No entanto, há uma classe de quadros clínicos relacionados que foram agrupados sob o nome de transtornos dissociativos (ou conversivos). Mas o que é um transtorno dissociativo?
A experiência dissociativa é caracterizada por uma perda parcial ou completa da integração entre memórias, consciência de identidade e sensações imediatas e controle dos movimentos corporais, ou seja, ocorre uma desconexão entre os fatos que ocorrem com uma pessoa e a percepção que essa pessoa tem sobre eles, por exemplo: o sujeito pode ter a sensação de que certo evento vivenciado por ele, faz parte da história de outra pessoa.
A pessoa acometida pelo transtorno dissociativo geralmente tem lapsos em sua memória, como informações pessoais ou eventos importantes. Presume-se que as causas desse transtorno são psicogênicas, associadas a trauma ou negligência ocorridas na infância, o desenvolvimento do transtorno ao longo do tempo pode ser influenciado também pelo ambiente em que a criança está inserida, a prevalência pode ficar em torno de 1,6% em homens e 1,4% em mulheres.
Os transtornos dissociativos incluem os seguintes diagnósticos: amnésia dissociativa, fuga dissociativa, estupor dissociativo, transtornos de transe e possessão, transtorno dissociativo de movimento e sensação, transtornos motores dissociativos, convulsões dissociativas, anestesia e perda sensorial dissociativas, transtorno dissociativos mistos e outros transtornos dissociativos.
Segundo o CID, o transtorno dissociativo de identidade se configura como uma perda parcial ou completa da integração entre as memórias do passado, consciência de identidade e controle dos movimentos corporais. O diagnóstico deve ser realizado com muita cautela, pois, cada caso clínico é único e singular, e sempre precisamos levar em consideração que o ser humano é auto construtivo e dinâmico.
Para o DSM os critérios diagnósticos para esse transtorno são a ruptura da identidade, o indivíduo perde parcialmente ou integralmente o domínio sobre as próprias ações, tem alterações no afeto, comportamento e consciência, memória, percepção e cognição. Os sintomas podem causar um prejuízo no funcionamento social e profissional, há esquecimento recorrente de diversas áreas da vida, o sujeito pode ter a sensação de que há mais de uma identidade, como se tivesse possuído ou houvesse mais de uma pessoa residindo dentro da sua cabeça.
A psicoterapia pode ser um longo processo nesses casos, mas ajuda o paciente a elaborar algumas memórias traumáticas, regular intensas emoções e desenvolver estratégias para lidar com os sintomas.
Referências:
Organização Mundial da Saúde. Classificação dos Transtornos Mentais e do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 1989.
Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais: DSM 5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Artigos de referência estão disponíveis em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-dissociativos/transtorno-dissociativo-de-identidade
https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-40369086
Deixe seu comentário