Autor: Sabrina Sasso Nobre
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Sabrina Sasso Nobre & Julia Dalenogare Marchry

No mês de setembro, ocorre o dia mundial de prevenção ao suicídio, durante o mês, diversas atividades são ofertadas em prol da campanha, em uma tentativa de conscientização da população, para que a prevenção possa ser atingida. A OMS (Organização Mundial da Saúde) destaca que mesmo na atualidade, o comportamento suicida é impregnado por estigmas que dificultam a busca por ajuda.
No assunto de hoje, iremos falar um pouquinho sobre as bases do suicídio:

• O ato suicida muitas vezes envolve a impulsividade, por isso é fundamental o impedimento por terceiros caso haja risco de suicídio, em grande parte das vezes, no dia seguinte o sujeito relata desejar não ter realizado o ato. Em casos de suicídio mais de 90% dos atos cometidos estavam relacionados a quadros de depressão. Claro, que precisamos considerar o quanto difícil, até mesmo perturbador, é percebermos que a pessoa que está diante de nós pode tirar a própria vida, em geral lutamos pela vida e pensamos na morte como algo abstrato, que está distante. Se deparar com um sujeito que pretende morrer pode ser angustiante, pois de alguma maneira, fere nossas expectativas e pode despertar uma série de mecanismo de defesas como: preconceitos, repúdio, crenças, entre outros. Esses mecanismos podem influenciar a percepção e gerar uma postura rígida que dificulte acolher o sujeito que está em risco de suicídio.

• Uma maneira de tentar entender a vulnerabilidade ao suicídio é através da hipótese do envolvimento de fatores genéticos (genes relacionados ao comportamento suicida que regulam proteínas envolvidas no metabolismo, transporte e receptores da serotonina, dopamina, GABA etc.), com a combinação de fatores ambientais (ambiente estressor, traumas na infância, família etc.) podendo ser fomentado ainda, pela presença de algum transtorno mental.

• Em relação aos aspectos psicológicos do suicídio, podemos refletir que o ato em si implica na negação da imprevisibilidade da morte quanto do sofrimento ligado ao morrer, ou, visualizando através de outra abordagem, o suicídio pode ser entendido como uma forma extrema de esquiva, com o objetivo de evitar a experiência de dor. O suicídio é caracterizado pelo desespero, dor intolerável, junto com emoções insuportáveis, sensação angustiante de estar preso dentro de si. A combinação do desespero e da desesperança pode levar ao ato de suicídio, caso sentimentos como esses estejam presentes, ligue para o número 188. A vida sempre é a melhor escolha. https://www.cvv.org.br

Indivíduos que sobreviveram a tentativa de suicídios tendem a apresentar uma precariedade de estratégias de enfrentamento de crises, tendem a ser mais sensíveis a estímulos e apresentam uma tendência a antecipar cenários negativos, dificuldade para solucionar problemas, além de apresentar rigidez cognitiva.
Lembre-se, o risco de suicídio é maior quando mais visível o sentimento de desesperança. Caso este sentimento esteja presente procure ajuda, porque você não está sozinho.

Fatores de risco e proteção

Pode-se denominar grupo de risco um grupo de indivíduos que apresentam alguns elementos derivados de eventos críticos vivenciados, que podem gerar uma condição clínica. Os fatores que podem influenciar o ato de suicídio podem ser vários, é importante identificá-los pois, quanto mais fatores de risco, maior a probabilidade de suicídio, portando, não devem ser ignorados.
A seguir, iremos destacar os fatores de risco sociodemográficos, transtornos mentais e fatores psicossociais:

Fatores sociodemográficos
• Sexo masculino (maior prevalência);
• Adulto jovem e idoso;
• Estado civil (divorciado, viúvo, solteiro, principalmente entre homens);
• Grupos étnicos minoritários.

Transtornos mentais
• Depressão, transtorno bipolar (em estado de hipomania), dependência de álcool/drogas (aumento da impulsividade), esquizofrenia e transtornos de personalidade;
• Comorbidade psiquiátrica;
• História Familiar de doença mental (genética);
• Falta de tratamento em saúde mental;
• Ideação ou plano suicida;
• Tentativa de suicídio pregressa;
• História familiar de suicídio;

Fatores psicossociais
• Abuso físico ou sexual;
• Perda ou separação de pais na infância;
• Instabilidade familiar;
• Ausência de apoio emocional;
• Isolamento social;
• Desemprego/aposentadoria (não existe mais uma “proteção”);
• Violência doméstica;
• Desesperança, ansiedade intensa;
• Bullying;
• Baixa autoestima;
• Pouca flexibilidade para enfrentar adversidades.

Os fatores listados podem variar de cada país ou estado e a intensidade e a duração com que estes fatores irão afetar o sujeito, variam de acordo com as diferentes fases da vida do sujeito. No entanto, há fatores que protegem contra o suicídio, e esses são chamados de fatores protetores: são aqueles que levam o indivíduo a ter uma vida mais saudável e de forma que seja produtiva, ter uma boa relação social, boa alimentação, noites de sono adequadas, exercício físico e rede de apoio emocional.

Fatores de proteção
Personalidade e estilo cognitivo: flexibilidade mental, estar disposto a pedir ajuda, estar aberto a novas experiências, habilidade para se comunicar, capacidade para avaliar adequadamente os eventos e solucionar problemas.
Estrutura familiar: Relacionamento interpessoal adequado, senso de responsabilidade com o outro, familiares consistentes, receber apoio em situações de necessidade.
Fatores socioculturais: integração em grupos sociais, adesão a normas sociais compartilhas, práticas coletivas, apoio prático e emocional, disponibilidade de serviço de saúde mental, emprego.
Diante destes dados é importante ressaltar que o fortalecimento dos fatores de proteção é essencial para que o indivíduo possa diminuir os fatores de riscos e desenvolver uma rede de apoio que possa ajudá-lo e trazer conforto emocional em momentos críticos.

Intencionalidade suicida

A intencionalidade se refere a uma ideia ou plano suicida, é o desejo e a determinação de cometer o ato de suicídio, ela pode apresentar diferentes níveis de intensidade: baixos, moderados ou altos (pacientes com planos suicidas, por exemplo, se colocam em níveis moderados/grave), porém, trata-se de probabilidades e não necessariamente regras. A intencionalidade pode intensificar a partir de ideias vagas sobre a morte, evoluindo para planos detalhados de como cometer o ato, incluindo cuidados para que não possa ser salvo ou para que nada possa dar errado.
Características que acompanham o aumento da intencionalidade suicida:
Ideias de morte  Ideias de suicídio  Planos de como se matar  Pesquisa poder letal  Providências pós-morte
O aumento da intencionalidade suicida ocorre principalmente por: plano detalhado de suicídio, métodos letais e irreversíveis para o ato, acesso ao método e capacidade de colocar em prática.

Fatores que podem sugerir a intencionalidade suicida:
• Comunicação prévia de que irá se matar;
• Mensagem ou carta de adeus;
• Providências finais antes do ato;
• Planejamento detalhado;
• Precauções para que o ato não seja descoberto;
• Ausência de pessoas por perto que possam socorrer;
• Não procurar ajuda logo após a tentativa de suicídio;
• Método violento, ou uso de drogas mais perigosas;
• Crença de que o ato seja irreversível ou letal;
• Afirmação clara de que quer morrer;
• Desapontamento por ter sobrevivido.
Qualquer sinal desses listados acima podem ser indícios de intencionalidade suicida, por isso, fique atento a seus familiares e amigos próximos, ou, se você está passando por uma situação em que se identifique com as características, procure ajuda profissional ou ligue para 188 (CVV – Centro de Valorização da Vida).

Prevenção ao suicídio

O Brasil apresenta índices elevados de suicídio, para poder prevenir que atos como esses ocorram, são lançados diversos programas e orientações a respeito das formas de prevenção, a seguir, iremos destacar alguns métodos adotados, principalmente neste mês de setembro, são eles : Conscientização da população; divulgação responsável pela mídia; redução do acesso a meios letais; programas em escolas; detecção e tratamento da depressão e de outros transtornos mentais.
No entanto, como é possível ajudarmos alguém que esteja sofrendo e apresente sinais de que tenha um plano para tirar a própria vida?
Demonstre interesse, realmente escute o outro, pergunte claramente sobre a intenção de suicídio, no entanto esteja disponível para realmente escutar, questione sobre o planejamento e os motivos. Demonstre que você se importa e está disponível para escutar e ajudar se for necessário, porém, caso a pessoa faça uma ameaça direta à própria vida é necessária uma conduta rápida, leve para um hospital ou ligue para a emergência.
Prevenir e orientar estão dentre os métodos que são alcançáveis pela população. Para encerrar nossa última publicação sobre o setembro amarelo, a seguir serão listados meios de prevenção que podem ser adotados ao público em geral.

• Restrição de acesso a métodos de suicídio (para pessoas que já possuem um diagnóstico);
• Educação dos responsáveis (para pessoas que já possuem um diagnóstico);
• Tratamento adequado de transtornos mentais;
• Apoio adequado após uma tentativa de suicídio;
• Cobertura discreta pela imprensa de casos de suicídio;
• Treinamento de médicos generalistas;
• Programas escolares baseados na promoção de habilidades sociais;
• Triagem de depressão e de risco de suicídio;
• Centros de aconselhamento em crise;
• Apoio para familiares e amigos enlutados;
• Controle mais efetivo da ingestão de bebidas alcoólicas;
• Serviços comunitários de saúde mental e de apoio social;
• Apoio para familiares em dificuldades;
• Educação do público em geral.

Referência Bibliografia:
Botega, Neury. Crise Suicida: Avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.