Autor: Sabrina Sasso Nobre
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A compreensão das diferenças entre transtornos neurológicos e transtornos psiquiátricos é fundamental para a construção de uma hipótese diagnóstica, embora ambos os tipos de transtornos afetem o cérebro, eles possuem características distintas em termos de patologia, sintomas e abordagens de tratamento.

Os transtornos neurológicos são condições que resultam de disfunções estruturais ou funcionais do sistema nervoso central e periférico. Esses transtornos frequentemente têm causas biológicas identificáveis, como lesões, anormalidades cerebrais, infecções, doenças degenerativas ou genéticas. Alguns exemplos incluem: esclerose múltipla; doença de Alzheimer; acidente vascular cerebral (AVC).

Os transtornos psiquiátricos, por outro lado, são condições mentais que envolvem padrões de pensamento, comportamento e sentimentos que se desviam significativamente da norma cultural e que causam sofrimento ou prejuízo funcional. Estes transtornos são em grande parte definidos por suas manifestações psicológicas e podem ter fatores biológicos, psicológicos e sociais como influências. Exemplos: Transtorno Depressivo Maior; Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Transtorno de Personalidade Borderline.

Em um estudo realizado, foi possível identificar uma distinção clara e significativa entre esses dois grupos. As análises mostraram que certas áreas do cérebro, como os gânglios da base, a ínsula e as redes sensoriais e motoras primárias, estão mais ligadas aos transtornos neurológicos. A região pré-frontal dorsal, responsável por funções executivas (como planejamento e controle), também se enquadrou nesse grupo.

Por outro lado, a região pré-frontal medial apareceu mais relacionada aos transtornos psiquiátricos. Essa área do cérebro está envolvida com processos como autorreflexão e cognição social (nossa capacidade de entender a nós mesmos e aos outros). Ela faz parte da chamada rede de modo padrão (conjunto de regiões cerebrais ativadas quando estamos em repouso, pensando ou refletindo, e que geralmente não é tão afetada em doenças neurológicas).

Os sintomas psiquiátricos são muitas vezes mais subjetivos e podem incluir alterações de humor, distúrbios de percepção, ansiedade extrema e comportamentos impulsivos. O diagnóstico desses transtornos geralmente é realizado por meio de entrevistas clínicas e avaliações psicológicas, considerando também a história pessoal e familiar do paciente.

Embora os transtornos neurológicos e psiquiátricos sejam distintos, é importante notar que há sobreposição entre eles. Por exemplo, condições neurológicas podem resultar em sintomas psiquiátricos, como a depressão que pode surgir após um AVC ou a ansiedade que pode acompanhar doenças neurodegenerativas. Além disso, algumas condições, como a esquizofrenia, costumam ser abordadas em ambas as perspectivas, pois envolvem tanto aspectos neurológicos (alterações na estrutura cerebral) quanto psiquiátricos.

O sucesso no tratamento geralmente exige uma abordagem multifacetada, considerando tanto os aspectos neurológicos quanto os psiquiátricos da condição do paciente. Profissionais de saúde mental, neurologistas, psicoterapeutas e outros especialistas costumam trabalhar em conjunto para fornecer o suporte necessário.

Referência:

David AS, Nicholson T. Are neurological and psychiatric disorders different? Br J Psychiatry. 2015 Nov;207(5):373-4. doi: 10.1192/bjp.bp.114.158550. PMID: 26527662; PMCID: PMC4629069.