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O devaneio, ou daydreaming, é o ato de criar cenários imaginários, diálogos internos e histórias mentais, muitas vezes como uma forma de escapar da realidade. Embora seja comum e até saudável em certos contextos, quando se torna frequente e intenso, pode indicar uma condição chamada devaneio desadaptativo, caracterizada por fantasias prolongadas que interferem nas atividades diárias, nas relações sociais e no autocuidado.
Esse comportamento pode funcionar como uma fuga de sentimentos negativos e está frequentemente associado a transtornos como depressão, TDAH, TOC, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), bipolaridade e transtorno de personalidade borderline (TPB). Em alguns casos, o devaneio assume um padrão compulsivo, desencadeado por gatilhos como músicas, emoções intensas ou estresse.
O devaneio está ligado a mudanças na atividade cerebral, incluindo uma maior atividade do córtex pré-frontal medial, estrutura parietal e hipocampo e uma menor atividade em regiões associadas à atenção e ao processamento de informações sensoriais.
Por exemplo, quando o cérebro experimenta altos níveis de estresse, como no caso de transtornos de ansiedade ou depressão, a atividade em áreas ligadas ao controle executivo e à atenção diminui, enquanto áreas associadas ao processamento emocional e à ruminação se tornam mais ativas. Essa alteração no processamento neural pode levar as pessoas a se perderem em pensamentos e imaginações, criando cenários alternativos que lhes oferecem uma fuga temporária da realidade.
O devaneio ainda pode ser uma estratégia de enfrentamento utilizada para lidar com emoções intensas e estressores. Para indivíduos que sofrem de TAG, por exemplo, a preocupação constante com o futuro ou com coisas que podem dar errado pode induzir devaneios como uma forma de tentar controlar ou imaginar soluções para esses problemas. Isso não só oferece alívio temporário da ansiedade, mas também cria um espaço onde a pessoa pode ensaiar respostas emocionais ou comportamentais antes de vivenciá-las na realidade.
Em pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline, os devaneios podem refletir a instabilidade emocional e a dificuldade em regular sentimentos. Quando os pacientes experimentam emoções intensas e difíceis de controlar, eles podem se refugiar em fantasias como um meio de obter conforto ou escapar do sofrimento. Essa estratégia, embora inicialmente benéfica, pode se tornar problemática ao intensificar a desconexão com a realidade e dificultar o funcionamento no mundo real.
A psicose, por exemplo, pode se manifestar com alucinações e delírios que, de certa forma, podem ser considerados um extremo da experiência de devaneios, nos quais as fronteiras entre a realidade e a imaginação se tornam indistintas. Isso pode levar a uma imersão tão completa na fantasia que a pessoa perde a capacidade de discernir entre o que é real e o que é imaginado.
Os episódios de devaneio existem como uma forma adaptativa e, por vezes, desadaptativa, de lidar com a vida e suas emoções. Eles podem funcionar como um mecanismo de defesa, permitindo que os indivíduos processem experiências emocionais ou antecipem cenários futuros de maneira mais segura e controlada. No entanto, quando esses devaneios se tornam excessivos, podem interferir na vida cotidiana, prejudicando o desempenho funcional e as relações interpessoais.
Em resumo, o devaneio é um fenômeno complexo que pode se tornar disfuncional quando afasta o indivíduo da realidade e interfere em sua vida cotidiana. Compreender suas raízes e manifestações permite aos profissionais intervir de forma mais eficaz, promovendo estratégias de regulação emocional e enfrentamento mais saudáveis.
DRAUZIO VARELLA. O que são os devaneios excessivos? Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/videos/o-que-sao-os-devaneios-excessivos/
INSTITUTO DE PSIQUIATRIA PR. Maladaptive daydreaming: os malefícios do devaneio excessivo. Disponível em: https://institutodepsiquiatriapr.com.br/blog/maladaptive-daydreaming-os-maleficios-do-devaneio-excessivo/.
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