Autor: Sabrina Sasso Nobre
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O transtorno afetivo bipolar se caracteriza por mudanças extremas de humor, englobando episódios de hipomania ou mania (elevação do humor, aumento da energia, pensamento acelerado) e depressão (baixo humor, falta de energia, sentimentos de desesperança). Dada a natureza incapacitante desse transtorno, é crucial abordá-lo por meio de um tratamento multidisciplinar. A neuropsicologia se destaca como uma ferramenta fundamental nesse processo, avaliando o funcionamento cognitivo do paciente e contribuindo para a elaboração de um plano abrangente de tratamento, visando a reabilitação de déficits neuropsicológicos.

Indivíduos com transtorno bipolar podem manifestar alterações no pensamento, linguagem, raciocínio lógico, capacidade atencional, memória e aprendizado. O TAB é reconhecido como a quarta maior causa de prejuízo funcional entre os transtornos neuropsiquiátricos, sendo seus impactos sugestivos de disfunção em circuitos fronto-estriatais específicos, o que em parte pode explicar as dificuldades na adaptação psicossocial desses pacientes.

O perfil neuropsicológico de quem vive com transtorno bipolar é variado, mas há características gerais observáveis:

  • Durante episódios maníacos, pode ocorrer aumento na velocidade do pensamento, prejudicando a atenção devido à distratibilidade. Comportamento impulsivo, déficit do controle inibitório e dificuldade em avaliar as consequências de ações também podem estar presentes.
  • Em episódios depressivos, dificuldades de concentração e atenção, lentidão cognitiva, atenção seletiva direcionada para problemas e problemas mnésticos (especialmente relacionados à recordação de informações) são comuns.
  • Entre episódios, pode haver melhora nas funções cognitivas, mas em alguns casos, persistem dificuldades, especialmente na área da memória.

Além disso, estudos de neuroimagem indicam alterações na estrutura cerebral, como redução do volume de áreas específicas, principalmente aquelas relacionadas ao controle emocional e processamento cognitivo.

Comorbidades associadas são frequentes no perfil bipolar, incluindo sintomas de transtorno de ansiedade e abuso de substâncias por exemplo, complicando ainda mais o quadro neuropsicológico.

O tratamento geralmente envolve medicamentos estabilizadores de humor e psicoterapia. Neste texto destacamos a importância de avaliar prejuízos cognitivos no transtorno bipolar, pois, essa análise não apenas auxilia na compreensão da fisiopatologia, mas também oferece um acompanhamento adicional ao tratamento. O objetivo é minimizar interferências nas áreas social e ocupacional causadas por dificuldades cognitivas.

A reabilitação neuropsicológica se destaca como um método eficaz no tratamento do transtorno bipolar, pois visa minimizar as interferências e dificuldades neurocognitivas no cotidiano do indivíduo. Assim, o objetivo da reabilitação neuropsicológica em pacientes com TAB é mitigar as consequências dos déficits cognitivos. Isso permite que o indivíduo desenvolva estratégias para atingir objetivos funcionais e uma compreensão mais abrangente de seus sintomas, impactando positivamente nas reações emocionais. Isso possibilita ao sujeito construir ferramentas para manejar sua sintomatologia de maneira mais funcional e integrar-se com qualidade nas atividades cotidianas.

Referencias:

Fuentes, Daniel. Neuropsicologia: Teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Loschiavo-Alvares, Fabricia Quintão. Manual para aplicação dos core sets da classificação internacional de funcionalidade (CIF) na reabilitação neuropsicológica. Belo Horizonte: Artesã, 2020.

Rocca, Cristiana C A e Lafer, Beny. Alterações neuropsicológicas no transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2006, v. 28, n. 3, pp. 226-237. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462006000300016>. Epub 27 Set 2006. ISSN 1809-452X.