Autor: Sabrina Sasso Nobre
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A resistência terapêutica é um fenômeno comum e multifacetado que ocorre quando o paciente, consciente ou inconscientemente, evita explorar sentimentos e pensamentos dolorosos durante o processo psicoterapêutico. Trata-se de um mecanismo de defesa que busca proteger o indivíduo do desconforto emocional, muitas vezes se manifestando por meio da negação, projeção ou minimização do problema. Essa resistência é mais frequentemente observada em homens e pessoas mais velhas, que tendem a apresentar maior dificuldade em reconhecer suas vulnerabilidades. Em muitos casos, o paciente transfere a responsabilidade de seu sofrimento para fatores externos, como familiares ou o ambiente de trabalho, evitando o confronto interno necessário para a mudança. Isso revela a expectativa comum por soluções rápidas, quando, na realidade, a terapia exige disposição para enfrentar dores emocionais profundas e construir, gradualmente, novos significados.

Essa resistência, pode ocorrer por várias razões como: estigma social; desconhecimento sobre terapia (a falta de informação adequada sobre o que é a terapia e como ela funciona pode gerar receios infundados); medo da vulnerabilidade; experiências negativas anteriores (quem já passou por uma experiência negativa com um terapeuta ou não viu resultados satisfatórios pode ficar cético em relação à eficácia da terapia); preocupações financeiras; tempo e compromisso; medo da mudança.

Além disso, quando confrontamos conteúdos emocionais difíceis, as respostas biológicas podem ativar o sistema nervoso simpático, que prepara o corpo para a “luta ou fuga”, nos deixando mais propensos a evitar esses tópicos.

Por outro lado, a resistência muitas vezes é um mecanismo de defesa que tem como objetivo proteger a identidade de experiências que não estamos prontos ou dispostos a enfrentar. Isso pode incluir a repressão de experiencias doloridas ou a evitação de questões de identidade e autoconhecimento.

Em uma das formas de resistência o paciente pode se manifestar através da evasão verbal. Isso ocorre quando o indivíduo muda de assunto ou minimiza a importância de questões que surgem na psicoterapia. Por exemplo, ao ser questionado sobre um evento estressante, o paciente pode responder com “não é nada” ou “isso não importa”. Ou através de comportamentos como chegar atrasado às sessões ou faltar repetidamente.

A desconexão emocional também pode ser uma forma de resistência. O paciente pode relatar seus sentimentos de forma fria ou sem envolvimento emocional, evitando a exploração mais profunda de suas experiências.

A resistência psicoterapêutica é frequentemente observada em várias condições psiquiátricas. Alguns transtornos em que a resistência é mais prevalente incluem: transtorno de personalidade (transtorno de personalidade borderline ou o transtorno de personalidade antissocial); Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT); depressão e ansiedade; transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

A resistência psicoterapêutica é uma parte natural do processo psicoterapêutico e pode servir como uma chave para entender as dificuldades emocionais e comportamentais que o paciente enfrenta. Compreender e trabalhar com a resistência é uma habilidade crucial para o processo psicoterapêutico. O manejo da resistência requer sensibilidade, paciência e uma abordagem colaborativa, onde psicólogo e paciente possam explorar as defesas e barreiras, trazendo à luz questões subjacentes que necessitam de atenção.

REFERÊNCIAS

Gaúcha ZH. (2012). Conheça os principais motivos da resistência à terapia. https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2012/10/conheca-os-principais-motivos-da-resistencia-a-terapia-3923759.html

Campo Grande News. (n.d.). A resistência dos pacientes a fazerem terapia: causas e soluções. https://www.campograndenews.com.br/artigos/a-resistencia-dos-pacientes-a-fazerem-terapia-causas-e-solucoes

NOTAS: Resistência é o nome dado aos comportamentos que atrapalham ou interrompem o andamento do processo psicoterapêutico.

Isso pode aparecer de formas sutis ou muito explícitas, como: Faltas recorrentes ou atrasos; Esquecimento de tarefas ou combinados; Mudança de assunto quando algo profundo emerge; Minimização de sentimentos; Uso excessivo do humor; Silêncios prolongados ou desconforto ao se aprofundar.

Por que ela aparece? A resistência não é “má vontade” do paciente, e não deve ser vista como um obstáculo a ser “quebrado”. Geralmente, ela é uma forma de defesa psíquica. O paciente está entrando em contato com conteúdo difíceis, angustiantes, dolorosos… e o sistema emocional dele reage tentando se proteger.

Como lidar com ela? Com curiosidade clínica, não com julgamento; com escuta empática, buscando compreender o que está por trás da resistência, não apenas o comportamento em si; com paciência.

Em algumas abordagens, o psicólogo pode ajudar o paciente a perceber e ressignificar os pensamentos e emoções que estão gerando a resistência. Já em abordagens psicodinâmicas, muitas vezes o foco é interpretar o sentido inconsciente daquela resistência no aqui-agora da relação terapêutica.